Poeira

Há muitos anos, ao visitar o Museu Imperial de Petrópolis (RJ), fiquei admirada logo na entrada: Era preciso tirar os sapatos e calçar enormes pantufas de flanela. Foi engraçado e um pouco constrangedor deslizar pelas salas e corredores do museu. Mas havia um motivo por trás desse ato: além de não riscar ou danificar o piso perfeito, ainda lustrávamos o assoalho, mantendo o brilho. Lembrei-me de, quando criança, ouvir minhas irmãs contando para minha mãe sobre a casa de uns amigos que era linda, mas os cantos eram sujos e cheios de poeira. Estávamos acostumadas com a nossa casa e nossa mãe tão exigente quanto à limpeza. Hoje, pensando nisso, imaginei que a tal casa empoeirada se parece, muitas vezes, com a nossa vida. Tentamos manter uma limpeza diária e ter um relacionamento com Jesus, a pessoa que limpa a nossa alma, mas, mesmo assim, sempre deixamos os cantos sujos e a poeira embaixo do tapete. O pecado se infiltra, a ingratidão se instala, o perdão bate asas, o medo arrepia os cabelos, a desconfiança espia por cima dos ombros cansados e a murmuração aparece e toma conta do lugar. Quem nos vê, talvez, tenha uma visão ofuscada pelo brilho dos bons momentos, pela maquiagem do domingo ou pelas fotos sorridentes nas mídias. Mas Deus, que nos sonda, nos conhece e nos olha amorosamente, vê que, muitas vezes, nossa força aparente é a mais pura fraqueza. Então, em Cristo, ele ilumina a sala, bate os tapetes, varre os cantos e manda toda a tristeza embora. Mesmo assim, nem sempre conservamos essa limpeza e, então, novamente, somos sustentados e aliviados do cansaço e do vão esforço. Que nesses momentos de cair e levantar, sujar e limpar, o brilho da nossa casa espiritual seja a luz de Cristo; e que ele nos ajude a deslizar pelos assoalhos da vida, se possível, sem quedas. Mas, se cairmos, o Senhor estará com as mãos estendidas para nos levantar.